O simples fato de cortar o cabelo faz com que eu entenda como é sentir-se rico ou pobre por um instante. Tudo depende de como está o salão. Quando chego e está vazio, fico abismado com a alegria deles em me ver. Sou tratado como rei. Perguntam se quero cortar o cabelo, fazer a barba, fazer a unha, usar o xampu novo importado. Oferecem o melhor lugar, de frente pra televisão, e me entregam uma toalha novinha e cheirosa. Em menos de dez minutos estou indo embora de cabelo cortado. Porém...Quando chego lá e o lugar está cheio...Nossa! Sou obrigado a “aguardar” por muuuito tempo, devido à enorme fila. Obviamente sentado e acompanhado daquelas revistas antigas que não me interessam. Folheio as revistas mesmo assim, pois fico inconformado com aquele careca que tem vinte fios de cabelo e demora tanto pra terminar o serviço e com aqueles caras que o cabelo mal cresceu, dá pra ficar uns dois meses sem cortar e mesmo assim tão lá na fila de espera.
Finalmente o barbeiro cansado, depois de muito tempo, me atende com desânimo, me deixa longe da TV, me cobre com uma toalha de cheiro estranho e percebo que estou rodeado por incontáveis cabelos de vários donos. Sem falar nas vezes que o cabeleireiro sai e fico sozinho em frente ao espelho com o cabelo “meio” cortado e o visual de Tina Turner. Enquanto ele não volta, sou obrigado a aceitar os olhares de todos do salão pra mim querendo dizer: “Que coisa mais horrível”.
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